segunda-feira, 18 de abril de 2011

OS NOVOS DESAFIOS DO PODER LOCAL

"No pretérito dia 30 de Março, no contexto das tertúlias “Partilha das Quintas”, a Universidade Sénior de Valpaços promoveu, uma vez mais, a troca de saberes no contexto da qual se abordou a temática dos novos desafios do poder local, onde se destacou a presença de Francisco Tavares, Presidente da Câmara Municipal de Valpaços que, na primeira pessoa, falou das principais dificuldades que as autarquias enfrentam e esboçou uma resenha dos principais desafios e projectos que se perspectivam para o concelho.


Por volta das 21 horas os habituais “partilhantes” e alguns estreantes começaram a aglomerar-se na habitual sala onde se realizam, semanalmente, as sessões da “Partilha das Quintas”, nas instalações da Universidade Sénior.

Manuel Jeremias, um dos habituais moderadores, deu o mote para o início da sessão começando por agradecer a presença do autarca e ressaltou a sua profunda admiração, a título pessoal, pelo interesse que reconhece a Francisco Tavares pela história nacional e local. Remetendo-se à temática proposta para a partilha, solicita ao autarca que se debruce sobre os novos desafios do poder local.

Neste seguimento, o edil começa por referir que, sendo presidente de Câmara há 26 anos, assistiu a muitas mudanças no que concerne ao enquadramento e paradigma do poder e gestão locais. Distingue, muito claramente, diferentes fases no contexto do poder local: uma primeira fase, que decorreu até à década de 80 no contexto da qual, aquele poder era “incipiente e pouco autónomo”. Este quadro, segundo o mesmo, resultava, em larga medida, dos juros extremamente elevados que a banca praticava (20/30%). Francisco Tavares relembra que, o momento de viragem, aconteceu aquando da entrada de Portugal na antiga CEE e, paulatinamente, “ao longo dos tempos foram transferidas muitas competências específicas para o poder local”. Ressalta que “a fase de grande afirmação das autarquias se deu na era Guterres”, sendo a mesma acompanhada por um exponencial incremento das verbas que, segundo Francisco Tavares, “conduziu a um gasto indiscriminado” desse dinheiro. Recorda que, nessa época optou por não recorrer a crédito tendo, inclusivamente, sido chamado à atenção por não levantar o dinheiro e foi aconselhado, se não o utilizasse, que o pusesse a render. O presidente sublinhou que daqui resultou o pagamento de uma elevada factura, aquando da entrada de Manuela Ferreira Leite, como ministra das finanças, em que assistiu a cortes radicais a nível do poder autárquico.

Apesar de tudo, com a governação de José Sócrates, Francisco Tavares refere que houve, efectivamente, mais poderes e competências imputadas às câmaras mas, com o aumento do poder, advieram também mais problemas que se prendem, essencialmente, com a gestão de verbas para o financiamento de algumas “competências”, sobretudo, ao nível da educação, águas e resíduos urbanos.

O autarca refere que, apesar de serem obrigados a entrar na dinâmica imposta, é praticamente incomportável, sobretudo, referindo-se ao preço por m3 de água e dos resíduos sólidos. “Há câmaras que estão em situação de ruptura”. Neste momento, nenhuma câmara paga porque “põe em causa a gestão das próprias autarquias”. Frisa que as câmaras propuseram estabelecer um preço comum que também não foi aceite. “Somos obrigados, segundo uma cláusula, a consumir mínimos, apesar de nós não podermos impor consumos mínimos”, adiantou o autarca. Rematou dizendo que se “estão a sufocar as câmaras”.

Paralelamente, disse ainda que o “mesmo acontece com o lixo. Propusemos à ministra levar o lixo a outros municípios mas tal não foi permitido, acarretando um despesismo brutal”. O mesmo cenário se repete na educação, relembrando que “um aluno custa-nos, em média, 10 mil euros por ano”.

Neste contexto de despesa acentuada, o autarca relembra a necessidade imperativa de definir estratégias que atenuem essa situação e dá um exemplo muito prático: “no que diz respeito à luz, também optamos por cortar a mesma alternando as luminárias e permite-nos poupar muito dinheiro”, concluindo dizendo “apesar de nos terem imputado mais competências, tal não implicou maior autonomia”.

Francisco Tavares referiu ainda que, mesmo no que toca ao recrutamento de pessoal, tentou dar preferência a indivíduos do município, todavia, neste âmbito, também aqui a decisão não passa pela autarquia o que implicou o recrutamento de pessoas muito longe do município, inclusivamente, de municípios contíguos e, apesar do autarca saber que muita gente lhe imputa essa responsabilidade, o mesmo declina-a, pelo facto de não ter autonomia de decisão. Diz: “somos governados com novas competências mas sem autonomias”.

O presidente sublinha que, futuramente, no que concerne aos novos desafios tem que se ter presente as limitações locais, nomeadamente, o êxodo rural, assim como as taxas de natalidade incipientes, correndo o risco do esvaziamento total de alguns concelhos dentro de 20 anos.

No âmbito dos projectos em curso para o concelho de Valpaços, Francisco Tavares, ressaltou alguns, nomeadamente, o Centro Escolar e o Polidesportivo (5 milhões de Euros); a avenida Sá Carneiro (500 mil Euros); Museu do Vinho (1 milhão e quinhentos mil euros); o Pavilhão da Castanha (1 milhão e Oitocentos mil Euros), entre outros. Neste contexto, frisou que a Câmara de Valpaços é a autarquia que detém maior taxa de execução e a que está a pagar melhor. Mencionou ainda que a estrada para Vale Salgueiro é uma ambição antiga e que essa intenção já foi manifestada ao estado, contudo, há um constrangimento de falta de verbas. “Contudo não desisti na negociação e no plano de acção essa obra já se encontra contemplada”, rematou o edil.

Este último, prosseguiu dizendo que “quem vier a seguir tem muito trabalho para dar seguimento”. Paralelamente, frisou que “às vezes há desafios que temos em cima da mesa mas não imaginamos as dificuldades impostas”, reportando-se às negociações encetadas em relação às estradas de ligação aos concelhos limítrofes (Mirandela, Chaves e Vila Pouca de Aguiar).

Enquadrando numa das hipóteses de redução da despesa pública, Francisco Tavares, mostrou-se receptivo à ideia de fusão de freguesias, afirmando que “não deve haver freguesias com menos de 300 eleitores”. Aqui, Manuel Jeremias dá o exemplo da “Revolução silenciosa” que se está a operar em Lisboa, no campo de acção de fusão de freguesias. Todos os presentes são unânimes na concepção de que a reorganização autárquica vai avançar de forma pacífica e, para que tal seja exequível, bastará uma determinação governamental.

Neste seguimento, Manuel Jeremias levanta uma nova questão a Francisco Tavares, sob forma de afirmação dizendo que o novo Parque Escolar é anacrónico, em virtude do acentuado decréscimo da população que, segundo o mesmo, não justifica a emergência destas infra-estruturas. Neste contexto, Francisco Tavares afirmou que “com boa gestão não havia necessidade de construção dos centros escolares (Valpaços e Carrazedo). No entanto, o estado apenas se manifestou disponível para financiamento de novas infra-estruturas e todas as câmaras decidiram aceitar ao invés de ficar sem elas”. Referiu que, no que respeita ao centro escolar de Valpaços, o mesmo representou um gasto de 4 milhões de euros que “estão todos pagos”, avançou ainda que “todas as obras comunitárias estão em dia”.

Também aqui, e em virtude da celeuma que o tema tem suscitado, foi referida a questão do Hospital de Valpaços e, em tom de desabafo, Francisco Tavares referiu que “critique-se que se criticar, o hospital funcionou bem com a antiga gestão. Tentei negociar a manutenção por mais quatro anos a gestão da Lusipaços sob a égide da Santa Casa. Contudo, diligenciei sempre junto da ARSNorte a manutenção do hospital e, neste contexto, foi-me dito que o SAP não era possível mas que era exequível a manutenção de todas as outras valências. No entanto, depois de muitas reuniões com as partes, percebi que a minha presença não era aceite”. O autarca lamenta que, malogradamente, o hospital acabou por fechar com todos os problemas inerentes, nomeadamente, no que diz respeito aos respectivos funcionários. Rematou dizendo que “no fundo perdemos um bem que ali estava e agora é muito difícil que volte a funcionar como antigamente”. Segundo o mesmo, o hospital era uma mais-valia que deveríamos ter sabido preservar e lamentou que tivesse resvalado para esta situação. Acrescentou ainda que, o terreno que está atrás do hospital, sendo propriedade da câmara, haveria disponibilidade de cedência à Santa Casa para expansão do hospital.

Continuando a partilha, ouve a intervenção de um outro tertuliano, Professor Sousa Maia, que aproveitou a ocasião para parabenizar o autarca pelas obras de intervenção de alargamento da estrada à entrada da cidade de Valpaços, apesar de ressaltar que os muros estão muito altos e, ao invés de serem em pedra estão a ser feitos em tijolo, desvirtuando um pouco o ambiente rural. A este reparo, o presidente refere que, por vezes, é difícil gerir, em virtude das imposições das pessoas e há sensibilidades que não vão de encontro aos nosso interesses.

Finalmente, Bruno Salvador questionou o autarca relativamente aos desafios que se impõem em virtude da conjuntura actual e dificuldades de financiamento, ao que Francisco Tavares começou por referir que existem receitas correntes e receitas de capital, sublinhando que “todos os anos temos tido um super avit no corrente e acabo por investir no capital. A minha dívida à banca são apenas 4 milhões de euros, sendo uma das câmaras do norte que tem menor dívida à banca. Temos 8 funcionários por cada mil habitantes e, também aqui é das câmaras com menor número de funcionários”. Rematou dizendo que “as leis são restritivas e não podemos meter gente como antigamente, senão, somos sancionados. O grande desafio passa então por mantermos as despesas correntes estabilizadas e saber gerir”.

No final, eram evidentes o contentamento e satisfação dos presentes perante o debate da temática, ficando a promessa que, futuramente, se voltará a debater o tema."

Fonte: Artigo extraído do Jornal Tribuna Valpacense

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

As religiões – as religiões abraâmicas

As duas últimas “partilha das quintas” tiveram como tese as religiões, subordinada ao tema as religiões abraâmicas. Três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) que descendem da tradição semita e que têm na figura do patriarca Abraão o seu marco referencial inicial.

Pela dimensão do tema – as religiões abraâmicas - esta reflexão e partilha escrita não será uma comparação entre estas religiões, este trabalho já se realizou nas tertúlias, mas outras considerações relacionadas com esta tese, que a meu ver, são mais urgentes e pertinentes.

Desde sempre o Homem procurou e procura o Transcendente, o Sagrado, Deus. É uma questão intrínseca ao homem e universal, mesmo para aqueles que o negam. Na sua existência, particularmente nas “situações limite”, as pessoas interrogam-se sobre a existência de uma realidade que as transcende. Assim, ao longo da história, a humanidade procurou encontrar-se com o divino.

A religião, que pretende estabelecer o contacto entre o humano e o divino, é uma realidade estruturante das sociedades. É um fenómeno universal no tempo e no espaço, que está na base das culturas, da vida familiar e da vida social.

Cada religião tem as suas características próprias, a sua maneira de ser e os seus costumes. É essencial descobrir, respeitar e amar tudo o que de bom existe em cada tradição religiosa: o fundador, os livros sagrados, o culto, os ensinamentos, o desenvolvimento histórico e cultural.

Foi com este sentido de descoberta, com estes sentimentos de respeito e de amor que estudamos e comparamos as três religiões abraâmicas. Pois sabemos que, e desde sempre, cada religião traz consigo um enorme perigo; o do fanatismo, da intolerância e do fundamentalismo. Mesmo nos nossos dias, e infelizmente, assistimos e verificamos estes perigos. Ainda, recentemente, no Egipto, o pudemos constatar: um atentado a uma igreja copta em Alexandria e o aumento da tensão e violência entre muçulmanos e cristãos.

O verdadeiro sentimento religioso é o esforço de entendimento, respeito, diálogo e reconhecimento da dignidade do outro; não é fusão nem anulação. É necessário estarmos atentos aos movimentos religiosos para acolhermos o que dignifica o ser humano e rejeitarmos o que o diminui. E com certeza verificaremos, e com espanto de alguns, que a violência e a intolerância não dignificam o ser humano, e que aqueles que a propagam com em nome da religião o fazem erradamente.

Mesmo existindo divergências entre judeus, cristãos e muçulmanos, quaisquer que sejam, importa relembrar e realizar o desejo de João XXIII "Buscai primeiramente aquilo que une, antes de buscar o que divide". Torna-se cada vez mais pertinente fomentar a união e a caridade entre os homens considerando primeiramente tudo aquilo que estes têm de comum e os leva à convivência.

De acordo com as três religiões abraâmicas, temos todos origem em Deus (Deus Criador) e todos temos o mesmo destino último (Deus). Os homens constituem uma só comunidade. Face a esta unidade, a única atitude admissível é a da fraternidade entre todos os seres humanos. E como irmãos, porque filhos do mesmo Deus, mesmo que tenhamos ideias ou religiões diferentes, assentes no diálogo, só podemos estimar-nos, respeitar-nos, e compreender-nos mutuamente.

Carlos Reis Martins

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Revolução de Mentalidades

Quando, no contexto da já propalada “Partilha das Quintas” sugeri o tema da Revolução de Mentalidades, de facto, no momento não me apercebi da amplitude do mesmo. Debruçando-me sobre o mesmo, pensei que, inicialmente, poderia iniciar a abordagem do tema começando por recorrer à etimologia da palavra, todavia, considerei mais oportuno indagar-me sobre a real necessidade de implementar uma Revolução de Mentalidades quando, ao longo da história, temos inúmeros marcos que nos demonstram que revoluções, sempre houve. Ressalte-se o exemplo do Maio de 68, o Apartheid na África do Sul, o 25 de Abril de 1974, a própria introdução do uso da mini-saia por Mary Quant…

O dealbar do novo milénio tem-se revelado turbulento e ameaçador, fazendo-nos conviver diariamente com o recrudescimento dos conflitos bélicos, o fantasma da crise económica, o medo do terrorismo internacional, o pântano da pedofilia, o quadro negro dos atentados ambientais e o extremar da intolerância e dos fundamentalismos. Pragas de proporções bíblicas que nos fazem temer pelo futuro das gerações vindouras e pela própria sobrevivência da espécie, enquanto nos confrontam com a face mais odiosa da condição humana...

No nosso cantinho do Atlântico, salvo localizadas excepções, continuamos felizmente imunes a muitos dos aterradores pesadelos que assolam o planeta. Continuamos a viver alegremente um dia após o outro, em confortável contemplação de umbigos, o nosso e o alheio, ou não fosse a bilhardice o eterno passatempo regional. Lá vamos pautando o nosso quotidiano pela mediania, nivelados pela baixa intriga política, espantados pela hilariante inércia da oposição e hipnotizados por doses industriais de novelas telecopiadas, reality-shows e noticiários de faca e alguidar...

Talvez seja a hora de perguntar: como vai a Alma Portuguesa? Que é feito do "povo humilde, estóico e valente" ? Agora que o progresso e o desenvolvimento se tornaram uma realidade, imperfeita e não isenta de críticas, mas inegável, não será tempo de nos virarmos para a mudança das mentalidades...?

Vivemos tempos difíceis, com elevados níveis de stress, salários a preço de saldos, objectivos de produtividade, trânsito intenso, endividamento excessivo, filas intermináveis nos correios, nas consultas, nos transportes, nos semáforos, nos bancos, nos serviços públicos, e esta amálgama de contrariedades tem ajudado a moldar o Selvagem Superior que, em maior ou menor grau, existe em cada um de nós...

De facto, nas estradas e nos Shoppings, de carro ou a pé, de dia e de noite, do mais modesto assalariado ao mais influente Sr. Doutor, da simples dona de casa ao exigente Administrador, cada vez são mais os exemplos reiterados de egoísmo, falta de civismo, irresponsabilidade, indiferença, prepotência e desrespeito pelo próximo. Junte-se a isto a sensação de impunidade, o compadrio e o nepotismo firmemente instalados, e temos a moldura perfeita da Selva Nacional...

Bem sei que um ser humano melhor não pode ser fabricado por decreto, mas também tenho por certo que algo deve ser feito e, neste contexto, proponho que seja encetado um ambicioso programa de alterações curriculares nas escolas do país. Assim, disciplinas como Educação Cívica, Prevenção e Segurança Rodoviárias e até mesmo Boas Maneiras, deveriam tornar-se obrigatórias desde a Instrução Primária, funcionando como um autêntico Primeiro Ciclo de Humanização para as novas Gerações. Ideias fascizantes, dirão os do costume, que confundem liberdade com irresponsabilidade; utopia, pensarão os pobres materialistas conformados que há muito deixaram de sonhar; disparate, julgarão os autómatos situacionistas que acham tudo bem como está. Mas, meus caros, imaginem como seria se apostássemos nestas primeiras gerações do milénio para transformar Portugal num melhor sítio, com melhores pessoas, e a partir daqui começar a mudar o Mundo...? Faça-se a Revolução das Mentalidades e dê-se Lugar ao Sonho...

Letícia Pinto

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Movimento Sindical em Portugal

Foi ainda no tempo da monarquia, concretamente em 1821, que se reconheceu alguma legitimidade à organização de associações de trabalhadores portugueses, porém, só em 1838 surgirá em Lisboa a sociedade dos artistas Lisbonenses, que evidenciava mais acção social. Acabou por se dissolver, e só em 1852 viria a aparecer o centro promotor dos melhoramentos das classes laboriosas, caracterizado por ideais socialistas. O primeiro passo para a instalação de bases de estruturas sindicais, em prol de uma sociedade mais justa.
Será no ano de 1871, que os trabalhadores portugueses aderem à associação internacional de trabalhadores – A Internacional, fundada por Marx e Engels.
Em 1873 é criada a associação dos trabalhadores da Região Portuguesa, que sofre em 1875 algumas alterações por influência do partido socialista, e mostra ambições para representar toda a classe operária.
O maior obstáculo para a difusão do programa, tinha a ver com uma classe de trabalhadores esmagadoramente analfabeta, que não davam a expressão eleitora que o P.S. necessitava e o aparecimento de alguns sectores da burguesia, contribuindo para o descrédito junto dos trabalhadores.
Entretanto os dramáticos acontecimentos de Chicago, recriam o chamado sindicalismo revolucionário, que alastra, tanto em França como na Península Ibérica, despertando os movimentos operários em busca de direitos laborais e melhores condições de vida.
A viragem política verificada em Portugal com a queda da Monarquia e a implantação do regime republicano, levam as estruturas sindicais ainda muito frágeis a recolher apoios dos políticos republicanos.
A partir de 1911, o movimento sindical tenta adequar os seus propósitos a nova linha ideológica que o presidia, tentando contornar de um modo mais eficaz os mecanismos repressores, quer do estado, quer do patronato.
Mas, por paradoxo que pareça, porventura temendo algum mediatismo na sociedade portuguesa, em 1914, o republicano Afonso Costa toma medidas drásticas para com o movimento sindical, ganhando a alcunha de “racha sindicalistas”, determinando a prisão de activistas sindicais. De facto passa-se a assistir ao enfraquecimento do movimento sindical de classe. Isso não esmoreceu a forte determinação da classe trabalhadora que através da Federação Operária de Lisboa, realiza em Março de 1914, onde foi decidido largar as bases da união operária nacional - embrião da confederação geral do trabalho, uma grande vitória do movimento operário, com graves repercussões no partido socialista.
A 1ª grande guerra, e as decisões tomadas pelos republicanos para envolver o nosso país no conflito, acabam necessariamente por causar danos ao nível interno, no movimento sindicalista português. Em 1922, fruto das “guerras” entre comunistas e anarquistas, permite ganhar espaço das forças conservadoras, que em 1926, desencadeiam um golpe assumidamente fascista à qual o movimento sindical não conseguiu dar uma resposta eficaz.
A ascensão das forças assumidamente fascistas em toda a Europa, ia retirando a acção dos movimentos representativos da classe trabalhadora, apenas visível em revoltas operadas em Lisboa e Porto, mas facilmente neutralizadas pelo regime que em 1933, estabeleceu o estatuto do trabalhador nacional, definido por uma cultura de harmonia de classes numa doutrina “filosófica” entre capital e trabalho, tentando destruir a luta de interesses, sendo o sindicalismo visto como uma força de bloqueio, e assistindo-se ao espancamento, homicídio e deportação dos dirigentes sindicais mais destacados.
As iniciativas de libertação iam sendo goradas, apesar de todas as tentativas, contudo é importante destacar aquela que foi considerada a 1ªgreve geral revolucionária, que contou com a heróica resistência dos trabalhadores na marinha grande, e que, acabou infelizmente por desencadear a perseguição e chacina de dirigentes sindicais.
É a partir daqui que muitos dirigentes se refugiam na clandestinidade para melhor constituírem um movimento de massas mais compacto. A estratégia pela conquista de algum espaço, levava alguns dirigentes a infiltrarem-se nos sindicatos elaborados pelo estado com a conivência do patronato, de forma a travar a difusão das suas leis.
É neste contexto, que em 1944, face à derrota do fascismo à escala internacional, que o estado novo se vê obrigado a dar uma duvidosa aparência de abertura democrática e que permite a realização de eleições livres nas estruturas sindicais, que não teve impacto porque o estado novo deu depois um passo atrás, recorrendo a prisões e afastamento dos dirigentes eleitos.
Entre 1941 e 1949, assistiu-se a um extraordinário período de riqueza de luta antifascista, que culminou com a criação do movimento de unidade democrática, com a célula juvenil, numa comunhão evidente da unidade entre trabalhadores e estudantes, que seria ilegalizada no ano de 1948. Apesar de tudo, a resistência continuou a aumentar e consequentemente a crescer e já na década de 50, associa-se à campanha do General Humberto Delgado, mobilizando milhares de trabalhadores à sua volta e realizando em Aveiro, em 1958, o congresso de trabalhadores anti-fascistas, fortemente reprimido pelas forças da ordem. Estava escrito que o movimento sindical estava a avançar e a sensibilizar a classe operária portuguesa, que ganhou mais visibilidade depois da morte de Salazar e que Marcelo Caetano, de forma mais moderada, tentava alterar de táctica, mas permitindo o Jugo sobre os trabalhadores. O crescimento do movimento sindical enquadrou-se numa dinâmica mais atrevida contra a legislação laboral e neste quadro um dos marcos mais importantes da história do movimento da classe operária com o nascimento em 1970 da Intersindical Nacional, futura C.G.T.P. Estávamos no mês de Outubro. A partir deste momento, a luta não mais recuaria até à conquista da democracia no dia 25 de Abril de 1974.
O 1º de Maio de 1974, constituiu o expoente máximo das liberdades sindicais assentes na unidade ofensiva e mobilizadora que se veio juntar à U.G.T., a segunda maior central sindical. Com efeito as acções mais marcantes foram quatro greves gerais ocorridas em 1982 (duas) e em 1988 e 2003, convocadas pela C.G.T.P.
As mais significativas foram planeadas em conjunto e 10 de Dezembro de 2003, contra o pacote laboral do governo de Durão Barroso, com a U.G.T. subscreveu, e a greve geral de 24 de Novembro, que contou com as duas centrais.
Hoje todas as estruturas sindicais estão bem organizadas, encontrando-se concentradas nas uniões de sindicatos que têm representação nas capitais de distrito do nosso País, apoiadas nas sedes nacionais de forma a proporcionarem aos seus associados a construção de uma sociedade mais justa e solidária, sem exploração do Homem pelo Homem.

Manuel Martins Terra

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O MOMENTO E A ATITUDE

De todos os lados, e, a todo o instante, os “media” estão a transmitir-nos (massacrar-nos?) com mensagens, que apontam para o grave momento económico, por que passa o país, e as suas previsíveis consequências negativas, a todos os níveis, que, para muitos, atingirão, mesmo, as suas necessidades mais básicas.
As pessoas, naturalmente, começam a ter muito medo, que é o sentimento pior, que pode afectar-nos, por que é ele a causa de todas as demais emoções negativas.
Que fazer? – Perguntamo-nos.
As respostas, ou pretensas soluções, umas mais sábias, que outras, mas, aparentemente, todas plenas de convicção, estão, não só na boca dos políticos, mas, ainda, na de qualquer cidadão, em simples conversa de café, ou de amigos, sem que, à partida, se possa afirmar que a manifestada pelo cidadão anónimo não é mais sensata, do que a proferida por pessoas com responsabilidades de chefia e orientação. 
A verdade é que, diríamos, geneticamente, todo o português se sente habilitado a dar  palpites, quando as coisas correm mal, e, tal, como no futebol, as soluções propostas variam, desde a substituição do treinador, à mudança de estratégia, desde a alteração de táctica, ao drástico sacrifício de  jogadores…
Como não podia deixar de ser, também, na “Partilha das Quintas”, (pomposamente, designada por tertúlia, que a Universidade Sénior de Valpaços (Rutis) organiza às quintas-feiras, para que os seus intervenientes tenham ocasião de expor, livremente, partilhando, sem quaisquer censuras, o seu ponto de vista, sobre um dos temas, semanalmente, agendados pelos seus moderadores, que são signatário, o Prof. Jeremias e o Dr. Agostinho) as causas da crise e receitas para dela sair, têm sido abordadas, sistematicamente, como se, fôssemos, inconscientemente, arrastados para a sua discussão, mesmo a despropósito do tópico principal.
As opiniões divergem, naturalmente.
Como, popularmente, dizemos: cada cabeça, sua sentença.
Contudo, há dois aspectos, nessas “discussões”, sobre os quais, gostaria de colher o Vosso pensamento.
Um deles, tem a ver com o facto de, nunca, nenhum de nós, se sentir co-responsabilizado pelo que está a acontecer. A culpa está, sempre, além!
Outro, releva da circunstância de entendermos que qualquer solução tem de vir do exterior, já formatada e pronta a ser aplicada, sem qualquer esforço da nossa parte.
Ora, pensei eu, porventura, mal, que, se, em vez de culparmos terceiros, fizéssemos, antes uma auto-análise, uma auto-crítica, nos virássemos para o nosso interior, e nos interrogássemos, sériamente, em que é que o nosso comportamento tem contribuído para o actual estado de coisas, talvez, descobríssemos, sem grande esforço, mas, com algum espanto, que, afinal, e, para dar alguns poucos exemplos, desde o consumismo desregrado, ao voto, mal orientado, passando pelo afrouxamento de valores nas nossas relações sociais, familiares, profissionais e pessoais, fomos verdadeiros actores e fautores do que, hoje, lamentamos.
Por outro lado, o exercício, acima proposto, implicando humildade, contém, em si mesmo, a resposta à segunda questão, deixada em aberto; ou seja, posso eu, que, nada dirijo e nada possuo, contribuir para alterar o “panorama” angustiante, que nos sufoca?
A resposta vem de uma mulher simples, a Madre Teresa, que, num dos países, onde os índices de pobreza são chocantes (a Índia), quando perguntada se valia a pena o seu trabalho, perante, tanta miséria, num país de um bilião de pessoas, ela respondeu, sensívelmente, desta forma: “eu sei que não posso salvar o mundo, mas, já me sentirei feliz se puder influenciar, positivamente, os que estão próximos de mim”.
Essa é, julgo eu, a sábia orientação: deixemos de nos lamentar, metamos a mão na consciência e vamos ao trabalho de ajudar, no que soubermos, e pudermos, por mais insignificante, que nos pareça, começando pelos familiares directos, pelas comunidades, mais próximas, com a certeza de que, deste modo, estamos a contribuir  para o aparecimento da “massa crítica”, que provocará a mudança de mentalidades, que é, verdadeiramente, o cerne da questão.
Estarei errado? Aguardo, sinceramente, os vossos comentários, com o tal espírito..
Com amizade,
Tété Pereira

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O país perdeu a inteligência e a consciência moral














O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Estamos perdidos há muito tempo...
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado
como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte, o país está perdido!
Algum opositor do actual governo? Não!


Eça de Queiroz, em 1871