quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Revolução de Mentalidades

Quando, no contexto da já propalada “Partilha das Quintas” sugeri o tema da Revolução de Mentalidades, de facto, no momento não me apercebi da amplitude do mesmo. Debruçando-me sobre o mesmo, pensei que, inicialmente, poderia iniciar a abordagem do tema começando por recorrer à etimologia da palavra, todavia, considerei mais oportuno indagar-me sobre a real necessidade de implementar uma Revolução de Mentalidades quando, ao longo da história, temos inúmeros marcos que nos demonstram que revoluções, sempre houve. Ressalte-se o exemplo do Maio de 68, o Apartheid na África do Sul, o 25 de Abril de 1974, a própria introdução do uso da mini-saia por Mary Quant…

O dealbar do novo milénio tem-se revelado turbulento e ameaçador, fazendo-nos conviver diariamente com o recrudescimento dos conflitos bélicos, o fantasma da crise económica, o medo do terrorismo internacional, o pântano da pedofilia, o quadro negro dos atentados ambientais e o extremar da intolerância e dos fundamentalismos. Pragas de proporções bíblicas que nos fazem temer pelo futuro das gerações vindouras e pela própria sobrevivência da espécie, enquanto nos confrontam com a face mais odiosa da condição humana...

No nosso cantinho do Atlântico, salvo localizadas excepções, continuamos felizmente imunes a muitos dos aterradores pesadelos que assolam o planeta. Continuamos a viver alegremente um dia após o outro, em confortável contemplação de umbigos, o nosso e o alheio, ou não fosse a bilhardice o eterno passatempo regional. Lá vamos pautando o nosso quotidiano pela mediania, nivelados pela baixa intriga política, espantados pela hilariante inércia da oposição e hipnotizados por doses industriais de novelas telecopiadas, reality-shows e noticiários de faca e alguidar...

Talvez seja a hora de perguntar: como vai a Alma Portuguesa? Que é feito do "povo humilde, estóico e valente" ? Agora que o progresso e o desenvolvimento se tornaram uma realidade, imperfeita e não isenta de críticas, mas inegável, não será tempo de nos virarmos para a mudança das mentalidades...?

Vivemos tempos difíceis, com elevados níveis de stress, salários a preço de saldos, objectivos de produtividade, trânsito intenso, endividamento excessivo, filas intermináveis nos correios, nas consultas, nos transportes, nos semáforos, nos bancos, nos serviços públicos, e esta amálgama de contrariedades tem ajudado a moldar o Selvagem Superior que, em maior ou menor grau, existe em cada um de nós...

De facto, nas estradas e nos Shoppings, de carro ou a pé, de dia e de noite, do mais modesto assalariado ao mais influente Sr. Doutor, da simples dona de casa ao exigente Administrador, cada vez são mais os exemplos reiterados de egoísmo, falta de civismo, irresponsabilidade, indiferença, prepotência e desrespeito pelo próximo. Junte-se a isto a sensação de impunidade, o compadrio e o nepotismo firmemente instalados, e temos a moldura perfeita da Selva Nacional...

Bem sei que um ser humano melhor não pode ser fabricado por decreto, mas também tenho por certo que algo deve ser feito e, neste contexto, proponho que seja encetado um ambicioso programa de alterações curriculares nas escolas do país. Assim, disciplinas como Educação Cívica, Prevenção e Segurança Rodoviárias e até mesmo Boas Maneiras, deveriam tornar-se obrigatórias desde a Instrução Primária, funcionando como um autêntico Primeiro Ciclo de Humanização para as novas Gerações. Ideias fascizantes, dirão os do costume, que confundem liberdade com irresponsabilidade; utopia, pensarão os pobres materialistas conformados que há muito deixaram de sonhar; disparate, julgarão os autómatos situacionistas que acham tudo bem como está. Mas, meus caros, imaginem como seria se apostássemos nestas primeiras gerações do milénio para transformar Portugal num melhor sítio, com melhores pessoas, e a partir daqui começar a mudar o Mundo...? Faça-se a Revolução das Mentalidades e dê-se Lugar ao Sonho...

Letícia Pinto

2 comentários:

  1. Estou de acordo total com a D. Letícia, acho que o país e o mundo seriam muito melhores se houvesse só um pingo de boas maneiras e educação entre as pessoas. Acho também que as pessoas, lá porque têm liberdade já podem fazer tudo que lhes apetece. Tenho ideia que isto nunca mais vai mudar porque sempre ouvi dizer que o exemplo tem que vir de cima e o que nós verificamos é (os mais altos) que deveriam dar o exemplo o não dão, antes pelo contrário, eles não são exemplo para ninguém. Por isso minha amiga, não vale a pena esforçar-se, embora eu achasse que seria fantástico. Luisa

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  2. No contexto socio-cultural atual, com a dicotomia de pensamentos a que estamos habituados, torna-se difícil definir o rumo certo para os nossos pensamentos e ações. É lógico, que a nossa educação, é a base estruturante e determinante para as gerações vindouras. É aí, em casa e nas escolas, que o intelecto de cada um se vai moldando, e formando, de acordo com a informação que absorvemos do exterior. A meu ver, as gerações juvenis não estão capacitadas para gerar uma “revolução de mentalidades”. Elas tem capacidade de receber a informação que lhes é transmitida, todavia, são demasiado simples para germinar o espírito crítico que pode ser determinante para um novo rumo social. No entanto, pais e educadores, têm um papel determinante na informação que transmitem a estas novas gerações. Elas poderão ser o equilíbrio e sustentação da verdadeira revolução.
    É pertinente considerarmos, que poderemos incutir aos jovens e juvenis, valores dos quais não somos portadores?
    A resposta é complexa e simples.
    Se não possuímos valores éticos e morais determinantes, não gozamos de condição para os poder transmitir. O velho ditado, “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”, não é fácil “digerir”. Pode mesmo gerar sentimentos múltiplos de indefinição. A regra e a ordem, a meu ver, deve ser imposta socialmente, determinada por princípios éticos básicos e estruturantes de uma sociedade livre, mas responsável.
    No tempo da ditadura, muitos problemas se colocaram à administração social de então, porém, a meu ver, nem tudo era censurável. Nas escolas impunha-se respeito. Os alunos recebiam disciplina e acolhiam valores que ainda hoje são determinantes. Creio eu, ignorantemente ou não, que o destino de uma “sustentação ética de mentalidades” pode passar por aí. Incutir aos juvenis a regra de outros tempos, mas com a autonomia responsável do “livre arbitrium”.
    Atendendo agora aos mais graúdos, a “revolução de mentalidades” é uma necessidade. Chegamos a um ponto de extrema saturação. Torna-se imperativo rever toda a estrutura orgânica que diretamente está relacionada com a nossa forma de estar em sociedade. É nos graúdos, que esta revolução deve florir, reconhecendo o fracasso de um sistema democrático falível e que põe em causa a sustentabilidade das gerações futuras. A “revolução de mentalidades”, a meu ver, deve sustentar-se na regra social. Não assume proporções de uma “revolução” no verdadeiro sentido da palavra, mas sim numa mudança de atitude, que se antevê necessária e coletiva. Nós jovens, temos um papel preponderante nessa nova forma de gerir a afirmação social. A nossa consciência, pode e deve administrar a informação que nos tem vindo a ser transmitida pela “geração de Abril”, e, com espírito crítico, ter a capacidade de por si só, transformar essa informação em massa crítica, construtiva e produtiva.
    Em suma, creio ser pertinente que os mais graúdos reconheçam o fracasso do nosso sistema democrático atual, admitir que os jovens possam participar ativamente nas decisões e deliberações sociais, e incutir aos juvenis valores e princípios sociais que possam garantir a sustentação de uma renovação de pensamentos e ações.
    É aí, que se dá a “revolução de mentalidades”, que assegurará um futuro promissor e uma sociedade renovava e reestruturada.

    Bruno Salvador

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